17 novembro 2005

LÍDER

Começou, ou melhor, já é visível a olho nú a liderança do PSD. Não, não falo de Marques Mendes, esse é o presidente do partido. O líder é Cavaco Silva. As manifestações dessa liderança já saíram dos bastidores para a praça pública e, calculo, vão ser sincopadas, certeiras e demonstrativas do poder efectivo.

Mas então qual terá sido esse primeiro grande sinal público? Cavaco Silva foi à TVI (a estação de televisão líder de audiências) dar uma entrevista de 45 minutos, coisa que há muito não acontecia. Assumindo um papel de Estado, recusou comentar o desempenho do Governo liderado por José Sócrates. A sua condição de candidato a vitória à primeira volta exige prudência e, acima de tudo, captação de votos à esquerda.

Ora, Cavaco percebeu que era importante dar um sinal. E esse sinal não tardou nem 24 horas. Manuela Ferreira Leite, coordenadora política da candidatura presidencial do ex-primeiro-ministro, disse à Rádio Renascença (a de maior audiência em Portugal) que, se estivesse no lugar de Marques Mendes, teria optado pela abstenção e não pelo voto contra o Orçamento de Estado. A ex-ministra elogia o documento, mas deixa no ar que será muito difícil a sua correcta e eficaz execução.

A direcção oficial do PSD reagiu de forma muito dura. Mendes reuniu a sua equipa e dali saiu pública resposta: «O Orçamento não é um documento técnico, é uma orientação política e deve ser avaliada enquanto tal».

O líder do PSD (Cavaco Silva) não gostou. E logo soltou a sua artilharia técnica pesada: Miguel Beleza, António Borges e Eduardo Catroga. Todos manifestaram público acordo com a posição de Manuela Ferreira Leite.

A linha oficial do partido calou-se.
É assim que um líder demonstra a sua autoridade.