12 novembro 2005

ORÇAMENTO

O António tem uma vida aparentemente feliz, desafogada. Troca de carro, tem o último modelo de telemóvel do mercado, vive numa bela casa e viaja regularmente com a mulher para Londres e Paris (umas compras sabem sempre bem).

O emprego é bem remunerado e lá em casa mais ninguém trabalha. Só ele. Vida atarefada, mas com gastos elevados. Estamos no ano de 2001 e os amigos avaliam o sucesso do António pelos sinais exteriores de riqueza. Desconhecem a relação deste com as entidades bancárias e por isso vivem na ilusão de que aquele amigo é rico.

Mas a empresa onde ele trabalha tem um abalo no final do ano e o chefe acaba por abandonar o cargo em Abril seguinte. Os amigos do António acabam por saber que ele usa e abusa do crédito e que está agora a ser pressionado com prestações cada vez maiores porque as taxas sobem e os encargos também.

É nessa altura que o António (confrontado pelos amigos para a sua mais que provável desgraça a médio prazo) começa a pensar no que deve fazer para enfrentar o problema. Decide ir ter com o patrão e gritar por um aumento, sublinhando que é bom profissional e que o tempo está mau e que portanto é preciso que todos ajudem, incluindo ele, o patrão, aumentando-lhe a receita mensal, leia-se, o ordenado.

Os amigos, por outro lado, alertam-no para a necessidade de fazer uma vida mais recatada, mais contida nos gastos e explicam-lhe que precisa de diminuir o que gasta mensalmente, cortando em tudo o que seja excesso.

O António insiste em exigir o aumento e como o patrão tem telhados de vidro, acaba por conseguir uma subida de vencimento. Continua, portanto a fazer a mesma vida, porque o aumento lhe permite atenuar as suas dívidas certas e permanentes.

Esta semana no Parlamento, o PS aprovou o Orçamento de Estado. Os impostos aumentaram, para que a receita do Estado suba. Toda a oposição votou contra.