27 novembro 2005

CADILHE

Ao terminar o seu mandato de três anos à frente da Agência Portuguesa para o Investimento (API), o ex-ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, voltou a aparecer. (Preciso de partilhar uma ressalva. Não percebo nada de economia).

Ora puxemos pela nossa memória para nos tentarmos lembrar de algo que, durante estes três últimos anos em que presidiu à nova grande aposta do Estado (digo do Estado porque o actual Governo mantém a API) para a captação de investimento estrangeiro, Cadilhe tenha feito de genial. Algo de verdadeiramente marcante, inovador, digno de ser estudado.

Normalmente sou um cidadão que procura informação. Leio jornais todos os dias com alguma atenção. Creio que não exagero se disser que a passagem de Miguel Cadilhe pela API ficará assinalada por um facto que pouco tem a ver com ele, ou seja, foi o primeiro presidente da nova agência.

Então por que razão nos lembramos de Cadilhe? Será que se lembrou de fazer a auto-crítica do mandato? Nada disso. Durante todo o mandato, as razões que o fizeram sair da discrição do seu fausto gabinete foram críticas a terceiros. Ao governo de Barroso (aqui é até de mau gosto porque foi nomeado por ele), às políticas económicas dos governos (dos últimos e dos anteriores), a Cavaco Silva (político sem o qual Cadilhe seria tão conhecido como milhões de portugueses). Ou seja, sempre que disse mal, o ex-ministro foi notícia e com enorme pompa.

Não duvido (porque não tenho conhecimento que me permita duvidar) da competência técnica deste renomado economista, mas as suas críticas constantes parecem-me sempre uma artimanha para que se não fale nada sobre o trabalho que ele próprio desenvolve.

Com tantas críticas aos políticos e às políticas, termino com uma pergunta: Por que será que não se apresenta a votos Dr. Cadilhe?

25 novembro 2005

É SÓ RIR

Notícia desta manhã na TSF: Uma vez que já não há presos preventivos no âmbito do processo, o julgamento da Casa Pia deixa de ter carácter de urgência.

O que está a passar-se há anos é o que a Justiça em Portugal entende ser um julgamento urgente?

24 novembro 2005

DÚVIDA

Por que será que Miguel Cadilhe não se candidata a um cargo político?

Ideias não lhe faltam e vontade de criticar não lhe passa há muitos anos. Será um cobarde?

23 novembro 2005

MANUEL ALEGRE

Registei a contradição entre o primeiro-ministro e o candidato sobre quem foi convidado quando para ser candidato. Mas há respostas que são sintomáticas.

Jornalista: Dr. Manuel Alegre, como se sente depois de desmentido pelo primeiro-ministro?
Resposta: Eu gostava era de saber como é que ele se sente com esse desmentido.

Sem comentários.

22 novembro 2005

BOM DIA

Começa hoje a ser promovida por uma agência de comunicação especificamente contratada pelo Governo, uma lavagem cerebral colectiva ao povo português.

Objectivo: convencer a população a apoiar alegremente a construção do novo aeroporto da Ota.

21 novembro 2005

BRILHANTE

Há um artigo imperdível na edição deste fim-de-semana no Expresso. Vem no caderno de Economia e é assinado por Jorge Fiel. Não sou de aconselhar leituras mas esta, acreditem, vale bem a pena.

18 novembro 2005

TRISTE

O aproveitamento que Francisco Louçã acaba de fazer da morte de um militar português no Afeganistão. A campanha para a eventual não participação de Portugal neste tipo de missões não se faz nesta hora. Erro político.

17 novembro 2005

LÍDER

Começou, ou melhor, já é visível a olho nú a liderança do PSD. Não, não falo de Marques Mendes, esse é o presidente do partido. O líder é Cavaco Silva. As manifestações dessa liderança já saíram dos bastidores para a praça pública e, calculo, vão ser sincopadas, certeiras e demonstrativas do poder efectivo.

Mas então qual terá sido esse primeiro grande sinal público? Cavaco Silva foi à TVI (a estação de televisão líder de audiências) dar uma entrevista de 45 minutos, coisa que há muito não acontecia. Assumindo um papel de Estado, recusou comentar o desempenho do Governo liderado por José Sócrates. A sua condição de candidato a vitória à primeira volta exige prudência e, acima de tudo, captação de votos à esquerda.

Ora, Cavaco percebeu que era importante dar um sinal. E esse sinal não tardou nem 24 horas. Manuela Ferreira Leite, coordenadora política da candidatura presidencial do ex-primeiro-ministro, disse à Rádio Renascença (a de maior audiência em Portugal) que, se estivesse no lugar de Marques Mendes, teria optado pela abstenção e não pelo voto contra o Orçamento de Estado. A ex-ministra elogia o documento, mas deixa no ar que será muito difícil a sua correcta e eficaz execução.

A direcção oficial do PSD reagiu de forma muito dura. Mendes reuniu a sua equipa e dali saiu pública resposta: «O Orçamento não é um documento técnico, é uma orientação política e deve ser avaliada enquanto tal».

O líder do PSD (Cavaco Silva) não gostou. E logo soltou a sua artilharia técnica pesada: Miguel Beleza, António Borges e Eduardo Catroga. Todos manifestaram público acordo com a posição de Manuela Ferreira Leite.

A linha oficial do partido calou-se.
É assim que um líder demonstra a sua autoridade.

16 novembro 2005

EMPREGO

Confesso que estou surpreendido. Talvez pela primeira vez uma coisa andou mais depressa do que o Governo tinha prometido.

O desemprego chegou aos 7,7%, coisa que o primeiro-ministro tinha dito que apenas aconteceria no fim de 2006.

SINAIS?

Terminou o ciclo de entrevistas aos candidatos presidenciais em horário nobre da TVI. Todas à mesma hora, coladas ao Jornal Nacional. Os números que se seguem reflectem as audiências:

Cavaco Silva - 45,3% de share - 1.717.400 espectadores
Manuel Alegre - 35,3% de share - 1.321.600 espectadores
Jerónimo Sousa - 35,6% de share - 1.211.500 espectadores
Francisco Louçã - 36,4% de share - 1.107.700 espectadores
Mário Soares - 30,7% de share - 1.061.400 espectadores

15 novembro 2005

NOJO

Cavaco deixou cair na entrevista de ontem à TVI que tinha cumprido serviço militar. Que argumento da treta, até porque é sabido que outros candidatos não o cumpriram e até fugiram dele. É como dizia o outro, não havia necessidade.

Mas bem pior fez o Dr. Soares. Diz ele que quer mostrar a sua ficha clínica se os outros fizerem o mesmo. Mais uma vez a picar o «amigo» Alegre que, como se sabe, foi vítima de uma grave doença de coração há pouco mais de dois anos.

Numa palavra: nojento.

SINAIS

A Metro do Porto já está nas mãos do Governo, assim como o túnel de Ceuta e o centro materno-infantl.

14 novembro 2005

APETECE-ME

Dizia Vergílio Ferreira: «Há dias em que chove dentro da gente!»

12 novembro 2005

ORÇAMENTO

O António tem uma vida aparentemente feliz, desafogada. Troca de carro, tem o último modelo de telemóvel do mercado, vive numa bela casa e viaja regularmente com a mulher para Londres e Paris (umas compras sabem sempre bem).

O emprego é bem remunerado e lá em casa mais ninguém trabalha. Só ele. Vida atarefada, mas com gastos elevados. Estamos no ano de 2001 e os amigos avaliam o sucesso do António pelos sinais exteriores de riqueza. Desconhecem a relação deste com as entidades bancárias e por isso vivem na ilusão de que aquele amigo é rico.

Mas a empresa onde ele trabalha tem um abalo no final do ano e o chefe acaba por abandonar o cargo em Abril seguinte. Os amigos do António acabam por saber que ele usa e abusa do crédito e que está agora a ser pressionado com prestações cada vez maiores porque as taxas sobem e os encargos também.

É nessa altura que o António (confrontado pelos amigos para a sua mais que provável desgraça a médio prazo) começa a pensar no que deve fazer para enfrentar o problema. Decide ir ter com o patrão e gritar por um aumento, sublinhando que é bom profissional e que o tempo está mau e que portanto é preciso que todos ajudem, incluindo ele, o patrão, aumentando-lhe a receita mensal, leia-se, o ordenado.

Os amigos, por outro lado, alertam-no para a necessidade de fazer uma vida mais recatada, mais contida nos gastos e explicam-lhe que precisa de diminuir o que gasta mensalmente, cortando em tudo o que seja excesso.

O António insiste em exigir o aumento e como o patrão tem telhados de vidro, acaba por conseguir uma subida de vencimento. Continua, portanto a fazer a mesma vida, porque o aumento lhe permite atenuar as suas dívidas certas e permanentes.

Esta semana no Parlamento, o PS aprovou o Orçamento de Estado. Os impostos aumentaram, para que a receita do Estado suba. Toda a oposição votou contra.

11 novembro 2005

CHOCADO

A capa de um semanário de hoje.

10 novembro 2005

TESTE

Para os que querem saber se o serviço de Internet que têm é o que estão a pagar ao fornecedor, basta fazer clique aqui.

PERSONALIDADES INSUPORTÁVEIS

Com a devida vénia à iniciativa do «Estado Crítico» eis a minha lista:

Mário Soares

09 novembro 2005

PINA MOURA

«Nos últimos 20 anos este é o primeiro Governo que combate seriamente o desequilibrio das finanças públicas».

Apetece-me perguntar se ele foi ministro das Finanças durante este período. Foi?

ORÇAMENTO

Trocam de bancada, invertem o discurso... quanto ao mais é tudo igual.

08 novembro 2005

CHOQUE

O termo que está em título é agora vulgarmente utilizado na linguagem política. Recordemos que Durão Barroso chegou a primeiro-ministro prometendo um famoso «choque fiscal» e que José Sócrates ganhou as últimas legislativas falando em «choque tecnológico».

O governo, este governo, completa depois de amanhã 8 meses de exercício. Ainda ninguém percebeu o que vai ser o «choque» que passou a «plano tecnológico». Foi prometido para 30 dias, depois para seis meses depois das eleições... e já lá vão oito.

Tudo isto para sublinhar que Portugal de facto está carente de rigor. A crise de confiança que o país atravessa tem muito a ver com a liderança que vamos tendo. Somos nós também, pela nossa acção, que a tornamos efémera.

Vejamos. Na apresentação dos principais candidatos presidenciais, toda a imprensa quis falar dos poderes presidenciais, uma forma dissimulada de chegar ao poder supremo de dissolução do parlamento ou demissão dos governos.

Se Cavaco Silva ganhar as eleições, como indicam todas as sondagens, terá logo esse desafio pela frente, o de fazer regressar a estabilidade política a um país, que só a teve com ele, durante dez anos de governação.

Se Cavaco Silva chegar a Presidente, poderá ser o primeiro a não utilizar o tal poder máximo da dissolução. Por isso acho piada quando ouço alguma esquerda falar em instabilidade quando até hoje todos os presidentes dissolveram o parlamento durante os seus mandatos.

Não acredito, creio que ninguém acredita nos dias que correm, que um homem faça mudar um país. Mas acredito que ainda há quem seja capaz de mostrar aos portugueses que o «choque de valores» é mais necessário que qualquer outro e que sem a reclamação constante, talvez se passe a um clima de paz social que permita um avanço sustentado de um Portugal que não pode mais viver da sua história, nem da passada nem da recente.

Portugal tem pouco tempo para mostrar que pode viver do presente. Com 30 anos de democracia, está na altura deatingir a maturidade politica e social, ou não há «choque de sobrevivência» que nos acuda.

CONSTATAÇÃO

Anda desinteressante a vida.